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26/03/2014

O FIM DO MUNDO













Aconteceu na cidade
Em Minas, no interior
Um fato bem curioso
Gerou grande pavor
Só viu este episódio
Quem hoje já é senhor


Assunto das esquinas:
Como vamos fazer?
O Halley vai passar
Na Terra vai bater
É um grande cometa
O que vai acontecer?


E quando nela chocar
Tudo aqui vai derreter
Será que irá agüentar
Talvez só vá tremer
Tudo vai arrebentar
Ou todos vão morrer


A notícia explodiu
O jornal foi publicar
Foi de boca em boca
Na praça a conversar
Assunto do momento
O mundo vai acabar


A noiva bem depressa
Foi com o noivo conversar
Arrume logo os papeis
Vamos rápido nos casar
Não queria ir solteira
Para outro mundo passar


A virgem logo achou
Um homem para ficar
- Se dane o preconceito
Não posso mais esperar
Não deixo a virgindade
Para o fim do mundo levar


A beata correu para igreja
E se pôs de joelho rezar
D’Olho para o cristo disse:
- Sr. sei que pode escutar
Me leva direto para o céu
A Sua direita quero sentar


O bêbado foi ao boteco
Pediu uma pinga fiado
O balconista o serviu
E ouviu desconfiado
-Se o mundo não acabar
Volto depois e pago


Naquela pacata cidade
Foi a maior confusão
Todos queriam aproveitar
Daquela triste situação
Todos apavorados
Correndo sem direção


O agiota desesperado
A todos pediu resgatar
O dinheiro emprestado
Mesmo sem o juro pagar
- Por causa do fim mundo
Não posso mais emprestar


O dono da venda ordenou:
- Pagues o tens a dever
Estamos aguardando
O que vai acontecer
A partir de hoje na venda
Fiado não mais vou vender


O ateu mudou de crença
E entrou na Igreja louvar
Em oração pediu a Deus:
- Senhor vim aqui implorar
Acredito no seu poder
O Sr. tem que nos salvar


Na funerária uma faixa
“Morra sem ser pagão
Antes que tudo acabe
Pague a vista seu caixão
E ganhe uma lápide
Feita em pedra sabão”


O coveiro disse feliz:
- Se tudo acontecer
Vou garantir emprego
Terei muito que fazer
O cemitério vai lotar
Muita gente irá morrer


O tabelião mercenário
E de tanta sagacidade
Disse aos funcionários
Rindo de tanta felicidade
- Emitam atestado de óbito
Para todos da cidade


O Prefeito então reuniu
A Assembléia da cidade
Antes de o fato ocorrer
Com toda velocidade
Declarou ao Presidente
Estado de calamidade


E nada aconteceu
Quando o cometa passou
O céu apenas brilhou
A terra não acabou
E muita decepção
Naquela cidade gerou


E a noiva pobre coitada
Tentou mas não agüentou
Ficou muito entristecida
De seu marido separou
Porque veio a descobrir
Que com a virgem ele ficou


A virgem não importou
Nem ligou para se casar
Descobriu nova vida
Ficou alegre a festejar
Pois agora na barriga
Tinha um filho para criar


A beata não conforma
Depois de tanto rezar
Com seu véu e grinalda
Vai ter que se contentar
Sentar no banco da igreja
Ouvindo o padre pregar


O bêbado ficou apertado
Depois que o fogo passou
De toda aquela história
Apenas a ressaca ficou
Teve de pagar o fiado
Pois o mundo não acabou


O agiota envergonhado
Dirigiu a todos falando
- Agora está em promoção
Continuo emprestando
O juro ficou mais baixo
Todos vão sair ganhando


O moço da venda remiu
Afirmou fui um idiota
Nunca mais vou escutar
Essa conversa de lorota
A venda pela caderneta
Agora já está de volta


O ateu assustado disse
Depois de muito tremer:
- Onde já se viu um cometa
No enorme planeta bater?
Eu sabia todo momento
Que nada ia acontecer


Foi o dono da funerária
O único que se deu bem
Aproveitou a oportunidade
Nem uma urna mais tem
Vendeu todos os caixões
Sem ter morrido ninguém


E no cemitério isolado
Que não foi inaugurado
O coveiro desapontado
De cócoras agachado
De tanto ficar a toa
Acabou desempregado

No cartório sempre vazio
Só a virgem e o namorado
Para registrar o nascimento
Da sua falta de cuidado
Viu o tabelião irritado
Que perdeu o planejado


O Prefeito meio sem jeito
Foi em Brasília informar
Presidente tudo acabou
Sem mesmo iniciar
Não tiveram feridos e mortos
O Senhor há de perdoar


Foi um grande alvoroço
O que esta cidade sofreu
Esperando raios e trovões
Nem ao menos choveu
Não teve sequer um ferido
E também ninguém morreu


E a pequena cidade
Naquela pacata vila
Nunca mais vai acreditar
Em notícia descabida
Sempre de olho no céu
Leva uma vida tranqüila